domingo, 15 de agosto de 2010

QUEM TRABALHA E QUEM CUIDA DE QUEM TRABALHA

Abel Aquino

Estou imaginando uma sociedade em que todos os membros adultos plantam para seu sustento, cuidam e colhem seu própria alimento, fazem seus próprios utensílios e abrigos,
e, ainda, produzem algum excedente de troca. Num determinado momento parte dos membros dessa sociedade escolhe subtrair produtos de outros, em vez de produzi-los. Há uma reação de revolta entre os que foram roubados. Nesse momento alguns outros membros se prontificam a combater esses ladrões, desde que as vítimas estejam disposta a ceder uma parte de seus produtos do trabalho. Esse grupo se especializa em perseguir os larápios e em impedir, fazendo vigílias, o roubo. Temos agora dois grupos não produtivos, o dos ladrões e o dos guardiões. Se os guardiões vencerem essa guerra contra os ladrões, deixarão de ser necessários e terão de voltar para o setor produtivo da sociedade, ou seja, terão que produzir seu próprio alimento e com o suor do rosto. Mas, como já perderam essa habilidade e ficaram acostumados a viver de paga alheia, não lhes interessa acabar com os ladrões. Então o combate ao roubo é sempre parcial, controlado, de forma a criar uma dependência entre quem trabalha e quem vive de quem trabalha. A ética do ladrão, que também tem princípios, é de não roubar demais para não matar o produtor e, assim, ele próprio ter de produzir. Para o guardião, é preciso existir ladrão para que o produtor sinta a necessidade de que alguém o proteja.
Esse raciocínio pode ser estendido para as guerras entre nações. Basta, para isso, que a classe parasita convença a classe produtiva a ceder parte do que produz com seu trabalho, em troca de proteção contra a ameaça de outro povo,outra raça, outro estado. Essa ameaça pode ser real ou convenientemente inventada, pouco importa.