terça-feira, 5 de outubro de 2010

ENTRE A CRENÇA E A DESCREÇA

Abel Aquino

O que significa a expressão: acredito nisso mas não acredito naquilo?
A minha crença tem ou não tem alguma influencia sobre a realidade?
Parece que não tem, logo, acreditar ou não acreditar nalguma coisa não faz diferença.
Se acredito que tal coisa é isso ou aquilo e estiver errado minha crença é falsa e é burruce preserva-la. Quando digo que não acredito e essa descrença está errada, também não faz sentido manter essa minha descrença.
Posso afirmar que eu não acredito na lei da gravidade e você dirá: “se não acredita na lei da gravidade vá até a beira do precipício e jogue-se de lá”. Obviamente, nessa hora, não consigo sustentar minha descrença na lei da gravidade. Mas grande parte de nossas crenças e descrenças não podem ser testadas de pronto ou de maneira direta.Minha crença na vida após a morte, por exemplo, não pode ser comprovada por mim, nem por ninguém. Nenhum morte apareceu a mim para confirmar. Tenho a impressão de que as crenças são, essencialmente, artigos de fé e só funcionam para quem fica satisfeito com convicções sem provas.
Minha natureza diz que, nessas circunstâncias, seria atitude sábia não ter crença nenhuma. Acontece que a maioria das pessoas está condicionada para oscilar entre dois pólos extremos, ou seja crença ou descrença. Se não creio nisso, logo descreio disso.
Da minha parte, estou tentando viver sem ilusões e procurando não cultivar convicções ou certezas ancoradas em opiniões, tradições e costumes. Quando não tenho provas materiais, naturais ou físicas das coisas, descanço na dúvida. De qualquer forma, não vejo oposição entre crença e descrença, entre a dúvida e a fé, pois vejo que no caminho que posso percorrer entre uma posição e a outra há milhares de pontos de paradas. Isso quer dizer que quando digo que não creio em algo, significa que adotei uma posição intermediaria que não nega a crença nem adota a descrença.
A maioria de nós não consegue viver nessa posição entre a crença e a descrença e acha que precisa adotar alguma certeza, porque parece insuportável viver na incerteza.
Percebo que, depois de vencer o medo de viver com a mente aberta, sem adotar posições extremas, ou seja, sem acreditar nisso ou naquilo e ao mesmo tempo achando que é possível que isso ou aquilo possa ser verdade, nada de grave me aconteceu: não enloqueci, não me consumo em angústias, não estou tomado pelo medo do incerto.
O medo fez com que o ser humano tentasse explicar os fenômenos naturais e mentais antes de entende-los? O medo forçou o ser humano a explicar de qualquer forma, mesmo fantasiosa, as causas e efeitos das coisas?