terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

DE PASTOS E REBANHOS

Estava viajando por uma estrada poeirenta e cheia de curvas, acompanhando as partes mais altas dos morros. De ambos os lados do caminho o terreno era inclinando e coberto de pasto. Lá no fundo do vale havia mata escondendo o rio. A visão era muito ampla e com o sol forte eu tinha a sensação de estar no meio de um vasto horizonte; o pasto pontilhado por gado branco, vacas touros e bezerros, limitados por cercas e ravinas. Mais adiante encontramos uma cobertura de telha, estrutura de madeira rústica e um enorme coxo cheio de sal. A roda do cocho a terra estava batida e coberta de excrementos do gado. Um homem espalhava o sol ao longo do coxo. Umas duas dezenas de vacas observavam o homem espalhar o sal e começara a andar na sua direção. Era um gado gordo e bem saudável.
É admirável o cuidado com que esses fazendeiros lidam com seu gado. Formam pastos vigorosos, constroem cercas para limitar seus deslocamentos, desviam córregos para oferecer-lhes água fresca, instalam coxos para alimenta-los com sal e ração balanceada.
Aplicam vacinas, combatem os parasitas e curam suas feridas. No final, depois de adultos e gordos são mortos e viram alimentos para o ser humano.
Lembrei-me de que muitos políticos vêem a sociedade assim, como uma espécie de rebanho domesticado, o qual precisa ser cuidado, seus deslocamentos limitados por cercas de leis e regulamentos, sua água servida, suas doenças curadas e periodicamente vacinado para que possa servi-los, pagar religiosamente impostos pesados e garantir a cada político uma vida segura e despreocupada das incertezas do mundo. Assim como o gado não tem consciência de que está sendo bem tratado para, no futuro, servir de alimento para os seres humanos, o povo não percebe que vive para servir aos seus senhores. O sistema educacional, a mídia, a impressa, os telejornais são veículos de convencimentos e reforço de que o rebanho precisa dos políticos, de que os políticos cuidam de cada cidadão, de que o Estado existe para proteger o fraco do abuso do forte, o pobre da maldade do rico, o ingênuo da esperteza do larápio. Enquanto o povo tiver a natureza do rebanho, haverá um Estado papai e políticos parasitas. Enquanto o povo acreditar que precisa de um Estado caro, perdulário, corrupto e incompetente, vai pagar para viver de promessa de que tudo vai melhorar, de que vai acabar com a violência, de que vai distribuir riqueza para todo mundo, independente do esforço de cada um, de que vai acabar com o tráfico de drogas, com a violência domestica, com o roubo, com o assassinato de rua, com a exploração de uns pelos outros. Dessa forma, enquanto o povo viver de esperança e de crença nesse Estado ideal do futuro distante, vai continuar existindo um sistema políticos podre, caro, perdulário, corrupto e uma elite política usufruído de tudo o que e de bom e luxuoso que a vida privilegiada pode dar.