domingo, 19 de junho de 2011

A EXPLICAÇÃO DA VIDA

Abel Aquino

Outro dia, numa conversa informal com meu pai, percebi o quão grande era o abismo mental, talvez filosófico que nos dividia. Minha cabeça foi inundada por uma luz, a luz da compreensão, aquele instante em que, repentinamente, você enxerga as coisas de uma maneira que nunca tinha visto, percebe as relações de causa e efeito de forma totalmente nova e rica. Tenho com certa freqüência esse tipo de iluminação, normalmente quando estou lendo um bom livro ou nos momentos de relaxamento ou ainda ao final de um sono reparador.
Mas, voltando ao meu pai, notei nitidamente que ele vivia sem dúvidas, não sentia necessidade de questionar as coisas nem duvidava facilmente de nenhum dos aspectos da vida, essa que tanto me faz curioso e inquiridor. Meu pai adotou a filosofia da “explicação da vida”, a filosofia totalitária e fechada, sentindo-se bem com isso. As vezes imagino que tem suas angustias e estas se manifestam em atitudes de intolerância e rigidez de raciocínio. Pergunto a mim mesmo se dá para viver bem dessa forma e a resposta que encontrei naquele momento é de que não sei. Imagino que a vida dessa forma deve ser muito pobre, restrita e talvez até perigosa, porque a todo momento as dúvidas estarão ameaçando trincar os alicerces dessas crenças rígidas. Fiz uma viagem ao passado e percebi que muito cedo eu estabelecera a luta pela ampliação de meus horizontes e pela busca incansável por montanhas mais altas, pela busca de conhecimentos e de compreensão da minha vida, da vida dos outros e, pretensiosamente, até do universo.
Poderia, pensando nisso, extrapolar e, com simplismo, imaginar que todos nós possuímos uma filosofia de vida. A do meu pai faz parte daquelas que são explicações das coisas e sua principal característica é a de serem fechadas. Da minha parte, busco aquela outra que seja uma filosofia dos questionamentos, da procura, não de respostas arbitrárias, mas de respostas que levem a outros questionamentos e aos cumes cada vez mais altos. Tento viver exercitando diariamente o método científico nos meus pensamentos, atos e escolhas.
Percebo, assim, intuitivamente, que a grande maioria dos seres humanos – pode ser uns 99 por cento? – é adepta da primeira filosofia de vida e gasta sua existência procurando religiões, ideologias ou mandamentos com os quais pauta suas pobres existências.
Gosto de perguntar sobre o papel do “medo”, daquele que se manifesta em forma de angustia existencial. O medo da morte seria uma das faces dessa aflição indefinida que move os seres humanos em direção de sistemas religiosos e ideológicos que explicam tudo, que definem as causas de tudo, o motor da vida, o sentido e os porquês. Mas, será que ao abraçarem esses sistemas estarão eles seguros e poderão apaziguar suas crenças erreais?
A impressão que tenho é de que nunca dormem tranqüilos e, então, diariamente executam aqueles ritos, repetem aquelas rezas, renovam suas promessas de submissão e obediências, tentando manter as dúvidas e as sensações de fragilidade sobre controle.