sexta-feira, 23 de agosto de 2013

SABER O QUANTO SABE, EIS A QUESTÃO


Fiz, a mim mesmo, a pergunta: vivo no mundo ou o mundo vive em mim? Poderia perguntar de outra maneira: sou parte do mundo ou o mundo é parte de mim? Quando olho para tudo o que está fora de mim, ao meu redor por exemplo, que parte da natureza e do mundo estou vendo? Com o que vejo, posso fazer uma avaliação realista e completa do que é o mundo? Ou, talvez o que vejo represente uma fração tão insignificante que não posso interpretá-lo com um mínimo de exatidão?
Meu cérebro pode processar muita informação recebida ao longo de minha vida, mas consigo emitir juízo de valor, tendo consciência de que, o que desconheço não foi incluído nos meus cálculos e que é possível não ter exatamente as informações necessárias para  poder emitir juízos de valor ou fazer escolhas inteligentes?
Platão escreveu que Sócrates costumava dizer que só tinha certeza de que nada sabia. Imagino que isso queria dizer que mantinha o espírito aberto a novos conhecimentos e era consciente de que o que desconhecia possivelmente seria exatamente a diferença entre uma boa avaliação do fenômeno e uma interpretação equivocada. Ou seja, sinto que os conhecimentos que tenho não são conclusivos, porque a parcela do que sei é muito pequena em comparação com a que desconheço ou com a que minha mente ainda não pode abarcar.
Quando leio livros de cientistas, filósofos ou de conselheiros profissionais, percebo, na maioria das vezes, que em seus escritos há um convencimento de que sabem tudo e basta que eu, como seu leitor, mantenha a mente aberta e aceite seu complexo pacote de verdades sem duvidar e sem procurar deficiências em suas demonstrações. Normalmente apresentam-se como donos da verdade e capazes de transformar a minha pessoa de noite para o dia de um mentecapto em um proprietário de profundos conhecimentos. De todos os filósofos que li só alguns deles tiveram a coragem de Sócrates em admitir que, embora acreditassem que haviam descoberto a lei universal da abolição da incerteza, da dúvida e da ignorância, poderiam estar redondamente errados e seu palavreado corresse o risco de ser varrido pelo tempo.

Imagino que o cidadão comum pode ter dificuldade em imaginar que precisa pesar sempre a proporção entre o que conhece e o que desconhece. Acredito até que nosso cérebro, em sua evolução, não precisou fazer esse tipo de cálculo e, quando a moderna civilização caiu no mundo tecnológico, acelerado em mudanças não se viu preparado para avaliar e agir. Perdeu-se  em função desse mundo mutável, cheio de recursos mecânicos, eletrônicos e até químicos que necessitamos colocar em uma hierarquia de valores para os quais não temos referências e muito menos lições históricas.