Abel Aquino
Faz algum tempo que a questão do meio-ambiente transformou-se numa campanha moral e emocional com desdobramento para aspectos fascistas de intolerância, separando as pessoas em bandidos e mocinhos, situação na qual a reflexão profunda ou a analise desapaixonada foi sendo banida para destacar apenas os aspectos de danos e prejuízos da natureza, ignorando a condição humana inseparável e essencial de sobrevivência tão importante quanto a sobrevivência de qualquer outra forma de vida. Muitos dos ditos movimentos ecológicos trataram a questão como pólos opostos: ser humano versus preservação, o que fez com que em suas campanhas a luta pela sobrevivência da natureza significasse o banimento da presença humana e a transformação das áreas a serem preservadas em territórios intocáveis. Outro aspectos ainda mais perverso foi o de considerar que a destruição da natureza é fruto da maldade humana ou da ganância dos que buscam lucros e vantagens financeiras por quaisquer meios e em qualquer situação. Com essa forma de encarar o problema, o fator educação, a busca de outras formas de auferir lucros, a pesquisa de novas fontes de rendas e o trabalho de mudança de velhos hábitos, foram desprezados em favor de intervenções coercitivas, punitivas, repressivas mediante a elaboração de leis e regulamentos, presença massiva do Estado policial e a destruição arbitrária de meios de vida de muita gente, sem um mínimo de respeito aos direitos que deveriam ser assegurados por uma sociedade livre e democrática. Para os movimentos ecológicos mais radicais, a preservação da natureza estava acima da preservação dos direitos humanos básicos. Nessas condições não havia preocupação em encontrar meios de conviver com a natureza, de eliminar o conflito entre preservação e meio de vida.
Recentemente surgiu a noção de que é preciso avançar na direção de encontrar formas de desenvolver a sociedade sem destruir a natureza. Estamos falando do princípio da sustentabilidade ou "desenvolvimento sustentável", conceito que pode encaminhar a questão para pesquisas de formas alternativas de usar a natureza em proveito do ser humano, sem danos permanentes às outras formas de vida com as quais interagimos e formamos o mundo da biodiversidade, intrinsecamente interligadas e mutuamente dependentes para o equilíbrio biológico como um todo dessa espaçonave chamada terra. É a partida para uma ação menos repressiva e burocrática da questão em proveito da busca de recursos de conhecimento, de manejo e convivência mediados pela educação das pessoas, pela formação de sociedades conscientemente baseadas na cultura da sustentabilidade e no convívio não predatório da natureza. Este seria em terceiro momento da questão inicialmente surgida da explosão populacional, da revolução verde, dos primeiros sinais de poluição e de deteorização do meio-ambiente. Naquele momento inicial os primeiros alertas chamavam a atenção para o uso intensivo de venenos nas lavouras e na poluição das águas nas rigiões próximas aos grandes centros urbanos. Esses primeiros alarmes, ainda tímidos, foram sucedidos pelos movimentos radicais ecológicos que brandiram a bandeira da preservação e combate a poluição e destruição da natureza a qualquer preço e sem respeitar a condição humana nessa problemática nascida da ignorância e, não da maldade inerente ao homo sapiens.
É sobre a luz dessa nova forma de encarar a questão ecológica que faremos um levantamento histórico da questão do palmito e desenvolveremos alternativas e novas visões sobre os aspectos ecológicos, antropológicos, com vista ao objetivo de alcançar meios sustentáveis, baseados nos princípios não predatórios da atividade econômica de exploração do coração das palmeiras para obtenção do palmito.