quinta-feira, 29 de outubro de 2009

SOBRE ECOLOGIA E REPRESSÃO

Abel Aquino

Faz algum tempo que a questão do meio-ambiente transformou-se numa campanha moral e emocional com desdobramento para aspectos fascistas de intolerância, separando as pessoas em bandidos e mocinhos, situação na qual a reflexão profunda ou a analise desapaixonada foi sendo banida para destacar apenas os aspectos de danos e prejuízos da natureza, ignorando a condição humana inseparável e essencial de sobrevivência tão importante quanto a sobrevivência de qualquer outra forma de vida. Muitos dos ditos movimentos ecológicos trataram a questão como pólos opostos: ser humano versus preservação, o que fez com que, em suas campanhas, a luta pela sobrevivência da natureza significasse o banimento da presença humana e a transformação das áreas a serem preservadas em territórios intocáveis. Outro aspectos ainda mais perverso foi o de considerar que a destruição da natureza é fruto da maldade humana ou da ganância dos que buscam lucros e vantagens financeiras por quaisquer meios e em qualquer situação. Com essa forma de encarar o problema, o fator educação, a busca de outras formas de auferir lucros, a pesquisa de novas fontes de rendas e o trabalho de mudança de velhos hábitos, foram desprezados em favor de intervenções coercitivas, punitivas, repressivas mediante a elaboração de leis e regulamentos, presença massiva do Estado policial e a destruição arbitrária de meios de vida de muita gente, sem um mínimo de respeito aos direitos que deveriam ser assegurados por uma sociedade livre e democrática. Para os movimentos ecológicos mais radicais, a preservação da natureza estava acima da preservação dos direitos humanos básicos. Nessas condições não havia preocupação em encontrar meios de conviver com a natureza, de eliminar o conflito entre preservação e meio de vida.

Recentemente surgiu a noção de que é preciso avançar na direção de encontrar formas de desenvolver a sociedade sem destruir a natureza. Estamos falando do princípio da sustentabilidade ou “desenvolvimento sustentável”, conceito que pode encaminhar a questão para pesquisas de formas alternativas de usar a natureza em proveito do ser humano, sem danos permanentes às outras formas de vida. Na verdade estamos imersos na natureza e com a mesma interagimos e formamos o mundo da biodiversidade, organismos e flora intrinsecamente interligados e mutuamente interdependentes, compondo o equilíbrio biológico como um todo dessa espaçonave chamada terra. Esta é, esperamos, a partida para uma ação menos repressiva e burocrática da questão, ou seja, procurando buscar recursos de conhecimento, de manejo e de convivência, principalmente com investimento na educação das pessoas, empenhando esforços na formação de sociedades conscientemente baseadas na cultura da sustentabilidade e no convívio não predatório da natureza. Este seria um terceiro momento, entendendo que tivemos, antecedendo, a explosão populacional, patrocinada pela revolução verde, a modernização da agricultura, em seguida tivemos os primeiros alarmes sobre a poluição e a deterioração do meio-ambiente, que foi sucedido pelos movimentos alarmistas e adeptos da repressão pura e simples. Naquele momento inicial, os primeiros alertas chamavam a atenção sobre o uso intensivo de venenos nas lavouras e sobre a poluição das águas nas regiões próximas aos grandes centros urbanos. Esses primeiros alarmes, ainda tímidos, foram sucedidos, num segundo momento, pelos movimentos radicais ecológicos que brandiram a bandeira da preservação e do combate a poluição e a destruição da natureza a qualquer preço, sem respeitar a condição humana nessa problemática nascida da ignorância e, não da maldade inerente ao homo sapiens.
Felizmente, o terceiro momento dessa questão promete ser mais de paz e educação que de repressão e terrorismo catastrófico.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

SOBRE PAZ E MANSIDÃO

Abel Aquino

Quando, com medo de guerras e violências, a gente defende uma sociedade de mansos, de indivíduos pacíficos, está na verdade justificando a existência da subordinação da sociedade á algum tipo de controle de uns pelos outros. Se alguém evita briga tem que combinar com o agressor, do contrário estará abrindo mão de algum direito violado por esse, o que quer dizer que está se submetendo ao outro.
Defender o pacifismo pelo medo de guerras, ser contra o conflito por medo da ruptura social e não ver, ao mesmo tempo que, na maioria das vezes, a paz é conquistada pela subordinação de uma das partes, o conflito é evitado pela tolerância às violações da integridade física ou moral de um individuo ou de uma sociedade, só é possível ignorando que a origem das guerra e dos conflitos pessoais está na injustiça.
As pessoas podem se revoltar contra tiranos, contra ditadores, contra aproveitadores, contra assaltantes e ladrões, mas, se forem mansas, treinadas no pacifismo, como poderão saber reagir, defender-se?
Os pacifistas esquecem de nos dizer como é possível alcançar a paz sem ceder em nossa integridade.
Para ter sentido, qualquer discussão entorno da paz precisa estar baseada na predisposição de toda a sociedade de buscar um mundo de justiça para todos, incluindo nesse debate os aproveitadores, os assaltantes e ladrões. E isso é ridículo.
Os conflitos sociais são resultados de assimetrias nos relacionamentos e na maioria das vezes essas assimetrias são geradas por sanções e restrições que foram criadas para evitar, exatamente, esses conflitos.
Se numa determinada sociedade houver um ladrão apenas não há como haver paz. Basta que um membro da sociedade queira viver às custas dos outros para tornar-se impossível a conquista da paz.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

LIBERDADE OU SEGURANÇA

Na sociedade moderna atual, não se procura preservar a liberdade mas sim aumentar cada vez mais a segurança de uns contra os outros, mesmo que essa busca seja fadada ao fracasso. Entregamos ao estado a missão de nos proteger de nossos semelhantes quando, na realidade, o verdadeiro objetivo do Estado é proteger os que o controlam e sugar da sociedade os recursos que maximizarão o usufruto de ter o poder, ou seja, de representar o estado perante a sociedade. O papel da sociedade é de sustentar o Estado, e para que isso não seja visível os operadores do Estado criam uma ideologia de dependência, faz a sociedade crer, de que, sem a presença do Estado, as coisas seriam muito pior.