O cristianismo apóia-se “nos
pobres de espírito” ou seja nas pessoas com pouca inteligência, com pouco
estudo, não versadas em conhecimentos científicos. Mas, o cristianismo
ultrapassa esse apoio e, indo além, procura cultivar a “pobreza de espírito”,
impondo ao mundo ocidental, por quinze séculos a prisão do pensamento.
O cristianismo introduziu a ideia
do herói fraco, do herói perdedor; Cristo foi crucificado para provar que os
fracassados também podem ser considerados heróis. Na tradição grega herói era o
que vencia os inimigos e defendia seu povo das ameaças dos outros povos. O
cristianismo inverteu esse papel e criou a figura do anti-herói, que nada
vence, que nada conquista, que não defende seu povo dos inimigos, mas, que
demonstra ser da mesma natureza dos comuns dos mortais. Para os gregos os
heróis eram deuses de natureza especial e superior aos seres humanos. Para o
cristianismo, seu herói, abdicou dessas qualidades para descer no meio da sociedade terrena e padecer com ela dos seus sofrimentos e dores. Portanto o herói não é mais aquele de grandes
feitos, de coragem e valentia, e sim, aquele que sendo da classe superior,
sendo um Deus, toma a forma humana e vai sofrer ao lado de cada individuo como
um deles. Como diria Nietzsche, o cristianismo é um platonismo para os pobres.
O cristianismo operou a inversão dos valores e enterrou aquela concepção de que
o ideal da vida é ter coragem, ser guerreiro, de construir uma vida de grandes
feitos, e colocou em seu lugar a visão do deus renunciante, do deus
transformado em humano e fraco, do deus do amor.
Antes eu reverenciava e obedecia ao
deus porque ele era o guerreiro que me protegia dos inimigos, e, agora, eu o
reverencio e o obedeço porque ele fez o sacrifício de deixar de ser um deus
para vir sentir o minhas dores de igual para igual. O guerreiro não mais
transforma-se em deus por seus grandes feitos, mas por abrir mão de suas
qualidades de deus para adotar o sofrimentos dos pobres. Criou-se ai a
filosofia do pacifismo, da aceitação, da negação da ação.