Quando observo uma
floresta uma das coisas que me atraem a atenção e o que me põe a matutar é o
fato de não conseguir encontrar no meio daquela exuberância de árvores
pequenas, grandes, finas e frágeis, grossas e imponentes, um coordenador, uma
organização centralizada, um reino das florestas, com trono, rei, fiscais,
polícias e cobradores de impostos para organizar aquela profusão de galhos,
cipós e raízes enroscando umas sobre as outras. Como uma floresta sobrevive sem
um estado que proteja as árvores mais fracas das mais fortes, as sementes de
serem devoradas pelos pássaros?
Quando saio a
passear por uma floresta saudável, não danificada pelo ser humano, vejo que as
aroeiras, os angelins e os cedros sobrevivem cercados de outras enormes árvores
e suportam as unhas das garras dos pássaros, a picada penetrante do pica-pau, e
o túnel cavado por tatus por entre suas raízes. Não consigo ver um governador
da floresta, uma tábua de leis a reger o comportamento de cada uma dessas
criaturas. No entanto,admiravelmente, a floresta é rica, é frondosa e cheia de
vida de toda espécie.
Deve ser com essa
admiração que nossos antepassados imaginaram que haveria um deus oculto que controlaria
toda aquela profusão de galhos, flores, raízes, animais e aves convivendo sob o
mesmo sol e a mesma lua. Comparavam com a sociedade humana, a qual,
aparentemente, precisava de comandante, de leis e cadeias e imaginava que a
natureza também teria seu comandante, suas leis, seus soldados invisíveis e seu
inferno apropriado.