Lá, nos primórdios da caminhada humana, o pensamento via a
mudança, o devir, o processo de nascimento e morte como a prova de que havia
algo oculto, algo não captado pelos sentidos, alguma coisa que fazia o mundo
girar e causar os ciclos de ascensão, de decadência e perecimento da vida.
As soluções apresentadas pelos primeiros filósofos não se
sustentaram, mas algum retalho dessas interpretações primitivas permaneceu. Os
seus sentidos viam as mudanças e o movimento passageiros das coisas e da vida,
aí sentiram vertigens. Então imaginaram que por trás desse devir assustador
havia uma base permanente e a essa base deram variados nomes. Criaram o
dualismo do real versus ilusório. Mas eles erraram, talvez não de forma
definitiva e terminal. De qualquer forma caminhavam, desconsiderando alguns
desvios, na direção certa.
Tivessem eles os recursos adicionais aos sentidos que temos
hoje, como o telescópio para perscrutar o espaço e os astros, e o microscópio para observar o imensamente
pequeno, chegariam a conclusão de que essa base estável, esse átomo
aparentemente “indivisível” está presente em todas as coisas.
Impressiona-nos, no presente, o quão perto chegaram e ao
mesmo tempo o quão frágeis eram esses conhecimentos. Bastou crescer o
cristianismo, por um lado e o islamismo pelo outro para que todas as
especulações e estudos fossem sepultados por mais de mil anos. O misticismo e a
animismo voltou a predominar no mundo até que, com o enfraquecimento do
monolítico poder papal, as catacumbas do conhecimento e da busca de respostas
sem Deuses e sem magia, voltaram a ser abertas, lançando novas luzes sobre o
conhecimento humano. Quantos por cento do que foi escrito na época áurea das
especulações gregas chegaram até nós?
Durante quinhentos anos muitos, homens e mulheres puderam estudar a natureza e
a vida humana sem muitas restrições religiosas ou políticas. Por isso foram
extremamente criativos. Foi uma época de liberdade para qualquer um exercitar
seus neurônios, investigar a phisis e a polis, sem risco de ser apedrejado ou
queimado em fogueiras de intolerâncias.
Mas quando a liberdade findou, encerrou-se um ciclo de
descobertas e invenções incomparável.
Passado aquele tenebroso período, a liberdade voltou. Ressurgiu
lentamente e com ela estabeleceu-se o movimento de resgate dos escritos da
época fantástica do mundo grego. Deram a esse movimento o nome de
“renascimento” expressão que revela, na exata medida, o que foi essa busca
impressionante pelo conhecimento adormecido dos grandes pensadores do passado.
O renascimento forjou o sucessor, a era do “iluminismo”,
quando o resgate dos conhecimentos quase perdidos atingiu seu apogeu. Terminava
um período de trevas e iniciava a maior e mais fantástica revolução na vida
humana que foi o predomínio do espírito de invenções tal como jamais havia
ocorrido.