quinta-feira, 22 de outubro de 2009

SOBRE PAZ E MANSIDÃO

Abel Aquino

Quando, com medo de guerras e violências, a gente defende uma sociedade de mansos, de indivíduos pacíficos, está na verdade justificando a existência da subordinação da sociedade á algum tipo de controle de uns pelos outros. Se alguém evita briga tem que combinar com o agressor, do contrário estará abrindo mão de algum direito violado por esse, o que quer dizer que está se submetendo ao outro.
Defender o pacifismo pelo medo de guerras, ser contra o conflito por medo da ruptura social e não ver, ao mesmo tempo que, na maioria das vezes, a paz é conquistada pela subordinação de uma das partes, o conflito é evitado pela tolerância às violações da integridade física ou moral de um individuo ou de uma sociedade, só é possível ignorando que a origem das guerra e dos conflitos pessoais está na injustiça.
As pessoas podem se revoltar contra tiranos, contra ditadores, contra aproveitadores, contra assaltantes e ladrões, mas, se forem mansas, treinadas no pacifismo, como poderão saber reagir, defender-se?
Os pacifistas esquecem de nos dizer como é possível alcançar a paz sem ceder em nossa integridade.
Para ter sentido, qualquer discussão entorno da paz precisa estar baseada na predisposição de toda a sociedade de buscar um mundo de justiça para todos, incluindo nesse debate os aproveitadores, os assaltantes e ladrões. E isso é ridículo.
Os conflitos sociais são resultados de assimetrias nos relacionamentos e na maioria das vezes essas assimetrias são geradas por sanções e restrições que foram criadas para evitar, exatamente, esses conflitos.
Se numa determinada sociedade houver um ladrão apenas não há como haver paz. Basta que um membro da sociedade queira viver às custas dos outros para tornar-se impossível a conquista da paz.