sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A FILOSOFIA DA INCREDULIDADE


Nós, incrédulos, que não cultivamos fé em nada a não ser no que é capaz de ser medido, catalogado, repetido, experimentado, certificado e comprovado, muitas vezes acreditamos muito no que foi medido, catalogado, repetido, experimentando, certificado e comprovado, mas tanto que acabamos tão crédulos quando os padres da Santa Sé. Duvidar de nossas próprias certezas é uma forma de renovar e legitimar a incredulidade.
Quando temos a noção de que o perigo que corre o cristão é do mesmo tamanho do que corre o malfeitor, fica fácil entender porque a troca de tiro entre policiais e bandidos termina com a morte do transeunte, atingido por uma bala perdida.
Dizem que tudo é uma questão de sorte só que essa crença levada a sério pode da mesma forma igualar o cristão com o malfeitor. Portanto, nós, os incrédulos,  que não conseguimos medir, catalogar, repetir, experimentar, certificar e comprovar a existência da “sorte”,  nem também conseguimos medir, catalogar, repetir, experimentar, certificar ou comprovar que ela não existe, acabamos alimentando uma certa prudência,  cultivando uma postura de pé atrás, dispostos a montar a sorte, se passar por perto, mas preparado para prosseguir na caminhada da mesma forma se ela não der as caras.
A probabilidade de o bandido ser atingido pela bala do policial pode ser aproximadamente a mesma do transeunte, logo que introduzimos o fator casualidade. No entanto, todas as crenças e religiões do mundo estão fundadas na possibilidade de haver um quarto ator nesse drama. Refere-se a essa quarta personagem quando o transeunte que sobreviveu exclama: por um milagre não fui atingido; Deus me protegeu!
Nessa hora eu penso no transeunte que não teve a mesma sorte. Se pudesse falar talvez dissesse: por uma incrível casualidade uma bala perdida me perfurou o coração. Ou então, poderia exclamar: o policial atirou tantas vezes na direção do bandido e não o alvejou; quem o protegeu, Deus ou o Diabo?

Veja como é difícil ver ordem no mundo quando o analisamos com uma boa pitada de incredulidade!

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