O Brasil é um país que parece não ter heróis, pelo menos
daqueles heróis típicos: os que tiveram um papel histórico e relevante na vida do
povo, serviram de exemplo e por isso influenciaram, mais ou menos positivamente, toda
uma nação. No entanto temos os anti-heróis, aqueles personagens que
desempenharam um papel significativo na vida de um povo, mas de maneira
negativa, que deram mal exemplo, que mostraram falta de escrúpulo, cometeram injustiças. Um espécime típico de anti-herói que temos, e ainda vivo, é o do
Sarney. Vale lembrar que tivemos um herói, que foi Tiradentes, mas não sei se
podemos considerá-lo tanto, visto que toda sua fama é devida mais a violência
da repressão do que pelos seus feitos. Andou ele, por um tempo, falando em
independência, em emancipação do povo, isso dizia nas rodas de botequim e em
portas de comercio. A reação desmesurada da coroa portuguesa deu uma dimensão
extraordinária a essa leve intenção de independência.
Alem do mais o que vemos são anti-heróis. Desses temos
muitos. Elegeria Getulio Vargas, Dom Pedro, Teodoro e Prestes.
Colocaria Rui Barbosa ao lado de Tiradentes como um caso
de quase herói.
Na verdade, nesse país, até para ter anti-heróis o povo
encontra dificuldade. O que encontramos
em abundância são bufões, caricatos de herói como foram Brizola e
Lacerda e Janio Quadros. Brizola é o exemplo típico de caricatura de herói com
sua pobreza de espírito e sua obsessão pelo poder, sem nunca
tê-lo de verdade. Viveu sempre cercado por espectros fantasmagóricos que o
assombraram a vida toda. Temos a figura de uma caricatura de herói em João
Goulart, esse também um personagem simplório e vacilante como poucos.
Poderíamos
falar de Castelo Branco, mas ai é forçar a barra, pois Castelo foi colocado no
poder por um grupo de militares golpistas, exatamente por ter aquela
neutralidade fugidia que povoa a história desse país.
Desde a
fundação, quando foi declarado posse do rei de Portugal, esse enorme pedaço de
mundo vive dominado por figuras hora
ridículas, ora sinistras.
Outra coisa que salta aos olhos dos mais atentos é a
tradição de ser, o país, dominado por uma elite tosca, uma classe dirigente
inculta, brega e rococó. Desde a colônia vemos pulular ao longo da história
nacional esses personagens sínicos, sem nenhum caráter.
É covardia quando, por exemplo, tentamos comparar Thomas Jefferson com José
Bonifácio, o chamado patriarca da independência. E olhe que estamos falando de
uma figura impoluta, muito acima da média dos típicos políticos que povoaram a
história do país. Jefferson era infinitamente mais culto e mais humanista que
ele.
Voltando ao Sarney, esse merece uma anti-biografia. Esta
seria riquíssima em dados sociológicos da cultura macunaímica que imperou desde
Cabral nessa terra do faz de conta.
Aliás, a
expressão “faz de conta” consegue sintetizar essa cultura sem caráter, aliada a
outra expressão muito comum que é a “para inglês ver”.
De heróis e anti-heróis, por
mais que pesquisemos, por mais que estudemos as vidas de todos os personagens
da historia do Brasil , fica sempre a dúvida e a certeza. Certeza de que nunca
tivemos heróis, dúvida, se pelo menos tivemos um anti-herói genuíno, puro,
completo. Não acredito; a grande maioria
de nossos personagens históricos são figuras marrons, fugidias, teatrais,
camaleônicas.
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