O estado como um organismo que paira acima da
sociedade e é responsável pela sua existência e continuidade surgiu porque
todos os sistemas sociais que deram origem às nações e aos governos
geograficamente delimitados, são arranjos artificiais, não espontâneos. Quanto
mais artificiais são, mais centralizados e controladores precisam ser. No mundo
moderno não se concebe uma sociedade sem um estado organizado e organizador. As
aspirações utópicas dos anarquistas não passam de sonhos irrealizáveis.
Por que isso acontece?
As sociedades espontâneas não precisavam de um
estado acima delas para existir, mas todas elas foram extintas; perduram apenas
na forma de pequenos grupos isolados em densas florestas de algum recanto do
mundo. Com o aumento das populações, da busca de alimentos e com a invenção de
armas de agressão, os seres humanos empreenderam as guerras, inicialmente por
comida, depois por vantagens materiais. Os grupos precisavam se unir para se defender
ou para predar outros grupos, daí surgiram as primeiras organizações
centralizadas e hierárquicas. O surgimento da hierarquia, comandante, soldado,
sacerdote e trabalhadores supridores, exigiu uma organização dirigente do tipo
que conhecemos hoje, centralizada e forte. A predação criou a classe dos
escravos como uma quinta classe, abaixo de todas as outras.
Assim, com o passar do tempo, os estados organizados
conforme interesse de uma classe dirigente tanto de preservar o seu grupo
quanto de garantir o suprimento de suas necessidades através do trabalho
forçado da classe inferior e dos escravos, exigiu um aparato estatal
centralizado, poderoso e repressor.
O Brasil, por
exemplo, que é uma nação artificialmente construída, só preserva sua unidade geográfica
porque é um estado centralizado e controlador. O desenho territorial revela
isso e o sistema político que temos baseado em normatização e controle, ou seja
com leis e polícia, garante sua permanência no tempo, tanto contra secessões
quanto contra as invasões externas dos seus vizinhos. Um país tão grande como
esse não resistiria nem alguns dias a uma descentralização significativa. Sua
história, fabricada tanto pelo domínio português de outrora quanto pelos grupos
políticos atuais que se alternam no poder, foi sempre marcada pelo domínio estatal
extremado da vida cotidiana de todos e de cada um de seus habitantes. Qualquer
idéia de descentralização é sempre considerada uma ameaça a unidade tanto
territorial quanto social. Esse medo revela claramente o alto grau de
artificialismo desse arranjo arbitrário chamado “Estado Brasileiro” ou mesmo
“Nação Brasileira”.