sábado, 3 de dezembro de 2016

SOCIEDADES ARTIFICIAIS

O estado como um organismo que paira acima da sociedade e é responsável pela sua existência e continuidade surgiu porque todos os sistemas sociais que deram origem às nações e aos governos geograficamente delimitados, são arranjos artificiais, não espontâneos. Quanto mais artificiais são, mais centralizados e controladores precisam ser. No mundo moderno não se concebe uma sociedade sem um estado organizado e organizador. As aspirações utópicas dos anarquistas não passam de sonhos irrealizáveis.
Por que isso acontece?
As sociedades espontâneas não precisavam de um estado acima delas para existir, mas todas elas foram extintas; perduram apenas na forma de pequenos grupos isolados em densas florestas de algum recanto do mundo. Com o aumento das populações, da busca de alimentos e com a invenção de armas de agressão, os seres humanos empreenderam as guerras, inicialmente por comida, depois por vantagens materiais. Os grupos precisavam se unir para se defender ou para predar outros grupos, daí surgiram as primeiras organizações centralizadas e hierárquicas. O surgimento da hierarquia, comandante, soldado, sacerdote e trabalhadores supridores, exigiu uma organização dirigente do tipo que conhecemos hoje, centralizada e forte. A predação criou a classe dos escravos como uma quinta classe, abaixo de todas as outras.
Assim, com o passar do tempo, os estados organizados conforme interesse de uma classe dirigente tanto de preservar o seu grupo quanto de garantir o suprimento de suas necessidades através do trabalho forçado da classe inferior e dos escravos, exigiu um aparato estatal centralizado, poderoso e repressor.
O Brasil, por exemplo, que é uma nação artificialmente construída, só preserva sua unidade geográfica porque é um estado centralizado e controlador. O desenho territorial revela isso e o sistema político que temos baseado em normatização e controle, ou seja com leis e polícia, garante sua permanência no tempo, tanto contra secessões quanto contra as invasões externas dos seus vizinhos. Um país tão grande como esse não resistiria nem alguns dias a uma descentralização significativa. Sua história, fabricada tanto pelo domínio português de outrora quanto pelos grupos políticos atuais que se alternam no poder, foi sempre marcada pelo domínio estatal extremado da vida cotidiana de todos e de cada um de seus habitantes. Qualquer idéia de descentralização é sempre considerada uma ameaça a unidade tanto territorial quanto social. Esse medo revela claramente o alto grau de artificialismo desse arranjo arbitrário chamado “Estado Brasileiro” ou mesmo “Nação Brasileira”.

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