quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

AUTOMÓVEIS E BARBÁRIE

VAMOS FAZER UMA ARITMÉTICA:

AUTOMÓVEIS = ACIDENTES = REPRESSÃO

SERÁ ISSO CORRETO?


Tenho ouvindo tanta insensatez nos últimos dias que preciso escrever alguma coisa.
E a primeira é que nossos políticos consideram que somos um bando de malucos, irresponsáveis no transito e todos nós, sem exceção, cachaceiros. Estatisticamente falando, transformam uma questão absolutamente normal, , em motivo para mostrar serviço e fazer o povo esquecer que metem as mãos nas burras públicas. O pior é transformar os acidentes de estradas e ruas num caso de polícia e a mídia, em peso e sem exceção, vai no embalo e dramatiza ou melhor, dá uma dimensão de tragédia nacional a estatísticas manipuladas e parciais dessa realidade muito mais complexa que a vã arrogância totalitária de nossos governante é capaz de abarcar.

Então vejamos:
Uma sociedade que tenha 0,1 % de malucos pode ser considerada uma sociedade sadia, não é verdade?
Isso apesar do naufrágio catastrófico da educação familiar nos dias de hoje, da educação pública capenga que temos, mesmo assim parece razoável 0,1% de irresponsáveis no trânsito. Mas de qualquer forma, se considerarmos 0,1% de malucos em nossas sociedade, concluímos que, se 2 milhões de paulistanos viajam num fim de semana prolongado, teremos portanto 2 mil malucos pegando a estrada nesses dias.
Anotei noutro dia, ainda no verão, que num fim de semana típico desses, houve 4 acidentes graves nas estradas paulistas, sendo que tivemos 6 mortes como resultado disso. Ocorreram outros vinte acidentes graves, mas sem vítimas fatais.
Qual é a conclusão a que chegamos?
Mesmo não considerando os outros 1 milhão novecentos e noventa e oito mil cidadãos que viajaram naquele fim de semana prolongado e, analisando apenas os 2 mil considerados por nós “malucos”, chegamos a conclusão de que, apesar de malucos, comportaram-se exemplarmente e apenas 24 motoristas confirmaram a sua maluquice. Ou seja apenas 1,2%.
Conclusão, apesar de tantas coisas erradas em nossa sociedade, começando pelo governo que não conserva estradas, não sinaliza direito, não fiscaliza corretamente, não educa ninguém. Apesar de nossas escolas não ensinarem civilidade no trânsito, de as auto escola treinarem cada um de nós a tirar carta e não a dirigir corretamente, apenas 1,2 % de 0,1% das pessoas que tomam as estradas cometem barbaridades.
Mas, porque toda essa gritaria, então?
Aí é que entra o fator político. Nosso sistema político se baseia na repressão e nas soluções burocráticas, não importa qual problema esteja enfrentando. Dar dimensão policial a um problema é o meio encontrado por nossos políticos acuados por denúncias de todo tipo, ou seja a segurança do trânsito só pode ser garantida pela repressão e de repressão os políticos entendem. Afinal o Estado tem o monopólio da força: constitucionalmente,falando, só o Estado está autorizado a usar da repressão como forma de “educar o cidadão”. Dessa forma o político mata dois coelho com uma cajadada só: mostra quem manda e passa para a sociedade a mensagem de que está fazendo alguma coisa para o “bem do povo”.
O problema principal é que temos tendência para as generalizações, para penalizar todos como forma de garantir que o verdadeiro culpado não se safe. Se alguém toma um copo de cerveja, pega um carro e sai pelas ruas não o torna criminoso de forma alguma. É um absurdo jurídico dizer que um copo de cerveja pode tornar um cidadão qualquer num assassino. Por mais absurdo que seja é o que essa lei considera. Você é penalizado por um crime que não cometeu mas de acordo com critérios sabe lá quais, poderia cometer. O pior é que quando alguém comete um crime ao volante de um carro, atropela alguém, estando embriagado a lei é leniente, a punição é duvidosa. O primeiro fator que inibe um cidadão de cometer um crime é a educação correta desde o berço e o segundo fator é a punição para os que cometem um crime qualquer. No entanto, com essa lei, esses dois fatores ficaram de fora. Estão sendo extremamente severos com os possíveis causadores de acidentes por ter tomado uma taça de vinho, mesmo sem ter cometido nenhum tipo de crime e esquecem da educação e da punição a quem já cometeu crime.
Por essa ótica a barbárie do trânsito é interpretada como falta de leis coercitivas que enquadrem todos os motoristas sob regras rígidas a serem seguidas e principalmente obedecidas. Ora essa forma de encarar a questão é falha na medida em que se esquece de que, ao criar regras coercitivas, é preciso também criar meios e recursos para aplicar essas regras, do contrário essas leis serão mais algumas das tantas leis mortas que existem por aí, fantasmas que rondam nossas vidas.
No entanto, a questão da barbárie no trânsito, é uma questão de educação, principalmente. Só que não funciona começar a educar uma pessoa aos 18 anos se desde de criança não teve uma apropriada educação doméstica. A educação só regula o comportamento se for transmitida desde o berço.
Por outro lado, com afirmei acima, numa sociedade estatizada, a opção pela coerção é irresistível.
Enquanto fazem a sua festa particular com o nosso dinheiro, os políticos, nessa democracia eleitoreira que temos, precisam dar alguma satisfação a sociedade. Criar leis restritivas e gerar clima policial nas relações sociais dá a impressão de que temos governo, de que temos autoridade.
Ora, uma sociedade não precisa de autoridade, de governo policial substituindo a educação, de coerção estatal dispensando a formação de hábitos de conduta social saudáveis. A nossa sociedade precisa exatamente do oposto: precisa sim de educação que substitua a necessidade aparente de repressão, de castigo e de penalização.
A realidade é que nossos políticos adoram ser cobrados; isso lhes dá oportunidade de cortarem mais um pedacinho de nossa liberdade em nome do chamado “bem comum” e ainda saírem de alma lavada. A forma como os políticos usam e abusam do dinheiro público dá-lhes dor de consciência, talvez uma espécie de tênue remorso. Portanto sentem aliviados quando surge a oportunidade de exercerem a filantropia sem enfiar a mão no próprio bolso ou quando podem patrocinar uma nova lei de coerção.