terça-feira, 26 de janeiro de 2016

SÍMIOS RACIONAIS E PETULANTES

Para a ciência, o ser humano é um animal, um animal da classe dos mamíferos, da ordem dos primatas, parente próximo dos símios. E o que diferencia o ser humano dos outros animais é a fala, e não como ainda se diz por ser um animal racional. Antes de ser racional o ser humano teve que evoluir meios sofisticados de comunicação e transmissão de conhecimentos. Portanto a fala poder ser o principal recurso que causou o distanciamento que vemos entre nós e nossos primos mais próximos, os macacos, sem falar nas outras ordens e classes. Claro que todos os animais possuem alguma forma de comunicação e de  transmissão de conhecimento, mas, por não ter o recurso da fala, cada geração só pode transmitir a seus descendentes muito pouco do que aprendeu. Já os humanos, ao desenvolverem a fala, desenvolveram simultaneamente a capacidade de transmitir cada vez mais e mais conhecimentos de uma geração a outra. Depois com a criação de símbolos gráficos para simbolizar os elementos sonoros da fala, a humanidade deu outro salto para a acumulação de conhecimentos de uma geração para a próxima e para todas as seguintes. Com o acúmulo de conhecimento e com a capacidade de trocar informações, criticar, questionar, testar e experimentar,   desenvolveu a consciência e com a consciência a capacidade de racionar, ou seja, libertou-se da jaula do presente, conseguia lembrar do passado, tirar lições de vida desse e planejar o futuro, o que é extremamente difícil para os outros animais.
Consciência poder ser resumida como a capacidade que cada um de nós temos de ler ou observar os próprios pensamentos e sentimentos.
Razão é a capacidade de analisar os fatos em função do tempo, tirar lições dos acontecimentos ou estudos de fatos e planejar o futuro, as ações do futuro. No iluminismo os filósofos acreditavam que a razão era a capacidade de não errar, que esta libertaria o ser humano da ignorância, o que é uma equivoco. A razão é apenas uma ferramenta da mente, neutra em relação a moral ou às regras sociais.
Um assaltante de banco pode usar eficientemente a razão para planejar o roubo, detalhadamente e sem grandes falhas, e será capaz de conseguir ter êxito em sua ação, pelo menos num primeiro momento. Na verdade, essa e a ferramenta que tornou os seres humanos tão diferentes dos animais. Da mesma forma que o ladrão, um bombeiro também consegue usar a razão para salvar uma pessoa presa numa casa em chamas. Talvez os filósofos do iluminismo, deslumbrados com a possibilidade de poder avaliar, pesar, comparar, tirar conclusões, escolher alternativas e prever conseqüências, apenas com o uso da razão, imaginaram que essa capacidade levaria os seres humanos a evitar os erros da vida. Mas a razão, como qualquer ferramenta, depende da forma como é usada e das intenções que levam as pessoas a usá-la. As intenções e as inumeráveis interferências no uso desse recurso é que vão determinar os resultados das ações ou das escolhas.
Quando aceitamos a concepção de que somos meros animais vamos diretamente de encontro a velhas crenças religiosas, cristãs em particular, de que somos criaturas de Deus, criadas para reinar sobre as outras criaturas e que não pode ser confundidas com elas. Essa visão de que somos criaturas especiais trás sérias conseqüências e uma delas vemos claramente no passado predador do ser humano e na devastação que ele causou à natureza. Hoje, muitos preferem ver o ser humano como parte dessa mesma natureza e, sendo  o racional que é, como responsável por ela. Temos capacidade de destruir toda a vida na terra inclusiva a nossa própria, mas também temos capacidade de aprender a conviver como os outros seres vivos, pois dependemos deles, e com a natureza como um todo. Podemos, simbioticamente, colher e dar bons frutos dessa convivência.
A grande revolução que está por vir pode ser a revolução da consciência humana, a capacidade de superar crenças, ideologias, palpites, convicções e pré-conceitos e atingir um patamar que propicie à humanidade a capacidade de diminuir os seus erros, seus atos e escolhas, principalmente aqueles que, a longo prazo, põe a sua própria existência em risco. A missão da humanidade é ir em direção da onisciência, aquela mesma atribuída exclusivamente a Deus. Mas, enquanto não chega próximo disso, terá que conviver com a grande ameaça de autodestruição, causada pelos seus próprios equívocos e pré-conceitos estúpidos.

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