quarta-feira, 27 de agosto de 2008

DESIGUALDADE SOCIAL?

Abel Aquino

Pergunta: Como conviver com a desigualdade social?

Essa pergunta imposta aos examinandos do ENEN- 2007, subentende uma complexa concepção da sociedade que precisamos, primeiramente, concordar ou discordar, ou seja nessa pergunta já embutiram uma concepção inteiramente questionável da realidade social . Os estudantes, possivelmente, não aprenderam a pensar nas interrelações de causa e efeito dos agentes sociais. Portanto o tema é complexo e capcioso na medida em que desafia o examinando a se posicionar frente a uma questão já aparentemente ou ideologicamente definida.
Levando em conta que nosso sistema educacional está fatalmente contagiado por ideologia exótica de igualitarismo baseado na expropriação de quem tem para dar a quem não tem, não espanta ao bem informado a astuta pregação que acompanha esse tema tão mal formulado. De qualquer forma podemos e devemos encarar essa questão até porque seria covardia não defender as mentes dos adolecentes sobmetidos a tamanha lavagem cerebral sem um ái da nossa parte.
E o primeiro passo é desconstruir essa pergunta.
Portanto vou duvidar e fazer uma pergunta simples: Existe mesmo desigualdade social?
E se existe o que é?
É o fato de uma sociedade possuir membros que são ricos e outros que são pobres?
Mas o que é ser rico?
E o que é ser pobre?
Rico é aquele que possui muitos bens e tem uma renda alta?
E ser pobre é não ter bens ou ter poucos bens e renda baixa?
Pelo critério de renda ou de padrão de vida só consigo fazer uma constatação: o rico é rico por que tem alta renda e o pobre é pobre porque tem baixa renda.
Mas por que essa diferença de renda? Posso dizer que é porque o rico tem mais estudos, tem formação superior e o pobre mal frequentou os primeiros anos escolares. Parece que aí temos uma explicação. O rico tem habilidades, conhecimentos, informações que vende por um bom preço no mercado. E o pobre não tem o que vender ou o que vende não tem muito valor; é um conhecimento tão básico que tem pouco importância econômica. Então, até agora cheguei a questão que explica, por um aspecto, porque parte da população é pobre e outra parte é rica.
Mas continuo na tentativa de responder a questão proposta.
Não posso acreditar que os pobres são pobres por uma questão de opção. São pobres por algum motivo, seja ele pessoal ou social ou uma mistura de ambos. Pode até mesmo ser por muitos motivos. Pobreza não parece ser uma escolha feliz. Quando converso com alguém que tem pouca renda, percebo que ele vive de um trabalho básico; a sua contribuição na renda nacional é insignificante. Já a parte do trabalho, do empreendimento do Sr. Fulano, diretor presidente de uma grande industria é significativa, mensurável até. Não posso imaginar qual é seu consumo pessoal, quanto gasta mensalmente para viver sua existência confortável. Mas imagino que trabalha duro, não no sentido vulgar, mas de maneira a satisfazer as exigências do carga que exerce. Voltando a questão do pobre, posso perceber que falta ao pobre os meios de se preparar melhor, em termos de aquisição de conhecimento, para enfrentar o mundo; não tem muitos recursos para vender portanto não consegue renda suficiente para, por exemplo, investir na educação do filho. E dessa forma o filho vai repetir as desventuras do pai. É um círculo vicioso.

Muitos acham que para tirar o pobre desse círculo vicioso é necessário a intervenção do Estado. Cabe ao Estado dispor ao pobre a escola, de forma gratuita, para que estude, tenha profissão e garanta uma renda muito melhor que a de seu pai. Mas percebo que o pobre é mais do que alguém com poucos estudos. Ser pobre é uma forma de vida e portanto tem uma inércia enorme e resiste a mudança mesmo que seja para melhor. Vejo que ser pobre é também reproduzir a pobreza. Uma visão bastante peculiar do mundo.
1 – Não dá a devida importância ao estudo. Como não há o desafio do meio social, o estudo se afigura enfadonho; coisa de longo prazo que parece incerto.
2 – É imediatista. Talvez devido a suas múltiplas carências quer beneficios imediatos.
3 – O meio social do pobre não oferece emulação, desafios com que contar para justificar um esforço incial para usufruir o resultado depois.
4 – A sociedade mais acima, classe média em diante, ignora os pobres, despreza e como nossa sociedade não possui uma cultura de trabalho comunitário, não faz ponte entre si e os pobres. Mesmo quando a classe média se sente ameaçada pelos pobres prefere exigir repressão à solidariedade. Podemos incluir aí até mesmo a igreja porque ao longo de nossa história ela foi totalmente omissa.
A sociedade pede que o Estado seja o redentor dos pobres, quer que o Estado faça aquilo que ela não faz. E o Estado pode ser o redentor dos pobres?
Ora, no nosso caso, brasileiro bem entendido, o Estado nasceu antes que a sociedade; na verdade, não nasceu, foi importado de Portugal. E o Estado sempre enquadrou a sociedade, ou seja, desde Cabral a função principal do Estado é de usar a sociedade para seus fins. Após a independência, esse modelo de Estado predador da sociedade continuou, adotando, na verdade, formas mais sofisticadas de sugar s sociedade sem muita dor. A democracia brasileira foi imposta apenas como forma de evitar conflitos entre grupos de poder. Daí a alternáncia de grupos no governo. A função do povo é de fazer o papel de curinga, legitimar essa alternância do poder sem contestação da parte perdedora. Então o pacto que existe em nossa sociedade é o pacto entre grupos de poder para se sucederem no comando da Nação, ou seja no direito de esfolar a sociedade. O papel de Estado prestador de serviços é uma ilusão. Quando analisamos o que as estruturas do Estado fazem, percebemos que é de prestar o mínimo, e de má vontade, apenas como forma de não deixar que a verdadeira razão fique evidente ao povo. Os próprios funcionários públicos são parte dessa engrenagem. Conseguiram estabilidade perpétua para que possam sobreviver a alternância do poder sem traumas. Um Estado capaz de quebrar o círculo vicioso da pobreza precisaria ser outro Estado, ter uma função que hoje é apenas de fachada. Cabe a nós lutar para abrir os olhos do povo e que veja a real razão de ser do Estado brasileiro; a de poder predador. Quando a sociedade não aceitar mais esse modelo de Estado sugador, os políticos serão automaticamente substituídos por prestadores de serviços à sociedade. Nosso povo foi obrigado a se relacionar de forma vertical, porque o Estado sempre desconfiou das atividades sociais que pudessem organizar o povo a se opor a ele. Portanto o relacionamento horizontal, não hierarquizado, de pessoa para pessoa, sempre teve algum tipo de restrição e a sociedade não aprendeu a ser solidária, não aprendeu a se organizar fora da esfera do poder político. O Estado é o verdadeiro causador das desigualdades sociais na medida em que controlou todos os aspectos de nossa vida, tanto social quanto econômica, isso desde Álvares Cabral. Já fomos proibidos de ter industrias, de formar organizações de educação e de auxílio aos pobres. Quando se decidiu construir indústrias, preferiu-se fazer sob a sombra do Estado para que não escapasse ao controle dos políticos.
Quando o Estado falha na educação, na verdade, não devíamos ficar surpreendidos porque o verdadeiro papel histórico do Estado é de fornecer uma educação dirigida, parcial. Os políticos tem horror a povo esclarecido. Antigamente a educação oficial contava uma história cor de rosa de nosso passado. Hoje tenta convencer os pobre de que sua condição é consequência da ganância dos ricos. Aliás, isso pode até ser verdade se considerarmos os ricos que fazem parte dos círculos do poder, tão sugadores da sociedade quanto os políticos, mas não dos ricos que chegaram a riqueza pela competência e pelo empreendimento, embora sob o peso opressivo das burocracias legais e impostos extorsivos.

Portanto, respondendo a pergunta de como conviver com as desigualdades sociais, posso afirmar que essa pergunta foi uma armadilha lançada à frente dos examinandos para que se posicionassem ideologicamente em face de uma educação comprometida com princípios camufladores dos verdadeiros problemas que culminaram, em nossos dias, na consolidação de uma sociedade com enormes disparidades de educação, de renda e de oportunidades de ascensão social.
O verdadeiro vilão das desigualdades sociais é o Estado, ou mais precisamente, são os políticos que tiveram o poder do Estado em suas mãos, mistificaram seus verdadeiros interesses de se beneficiar do exercício desse poder, lançaram mão de retóricas manipuladoras da sociedades tais como “ o Estado é o guardião do povo” , “o estado é o defensor do mais fraco” ,” é o pai dos pobres”, “ protege o pobre da ganância do rico”. Para manter o povo sob transe, lançam mão de discursos populistas de que estão trabalhando para o bem de todos, enquanto intramuros formam quadrilhas de assalto aos frutos do trabalho do povo em forma de impostos escorchantes. Daí alimentam seus projetos personalistas de riqueza e poder. Outrora tivemos a indústria da seca, uma forma descarada de se beneficiar da miséria do povo das regiões semidesérticas, desviando dinheiro das regiões prósperas para seus curais particulares. Nos dias de hoje essa prática generalizou-se e temos nacionalmente a “industria da pobreza”, uma forma de extorquir a sociedade em dez, dar um para os pobres e embolsar nove. Quando estudamos nossa historia desde 1500, ficamos impressionados com a constância desse “modus operandi” dos políticos que já passaram pelo poder: sentem-se donos do país, brincam com o destino do povo, desviam dinheiro para seus bolsos, formam compadrios, beneficiam uns e esfolam outros, prometem o paraíso e deixam o desilusão. Não importa a cor ideológica do ocupando do poder, todos chegam a ele com promessas de redenção, de refundar o país, de começar tudo de novo, de alçar ao primeiro mundo, de acabar com isso ou aquilo e saem deixando o país uma terra arrasada.
Hoje nossa sociedade está doente. Ela adora o Estado, e espera tudo dele. Sonha com um líder que possa ser diferente e esquece de se organizar, de formar o seu próprio poder e enfrentar o poder que ela mesma dá aos políticos. Só conquistando poder é que a sociedade conseguirá romper esse círculo vicioso de esperança e desilusão e, a partir daí, ir, com liberdade, construindo uma ponte permanente entre pobres e ricos, criando uma terra de oportunidades e não de eternas promessas.

Setembro/2007

Um comentário:

Unknown disse...

Queria eu escrever assim... sem meus erros de português... rs

Gostei do texto do Aborto..e exatamente o q penso... acho q a pessoa tem q ter o direito de tirar ou ter o filho...dentro de um tempo...