quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O QUE É UMA SOCIEDADE TUTELADA

Abel Aquino


Para uma pessoa observadora é fácil perceber que nosso povo vê os problemas econômicos e políticos do país como problemas exclusivos do governo e só Ele pode resolver. Dessa forma, nossas mazelas são heranças acumuladas por sucessivos maus governantes. O povo considera-se inteiramente inocente. O máximo que se admite é a cumplicidade da elite, sempre para o mal, obviamente.
O povo é passivo, vive de esperança; acredita que tudo vai mudar no dia em que tivermos um bom Presidente. Espera e sonha com o surgimento do grande político, do verdadeiro Messias.
Podemos dizer até que, historicamente, somos uma nação essencialmente infantil, desconjuntada e covarde. Essa insegurança gera o medo dos estrangeiros, medo das multinacionais, medo das leis do mercado, medo do imperialismo, medo misturado com ódios e queixas. Na ausência do Estado, a sociedade enrola-se sobre si mesma. O estado é o muro das lamentações, onde desfiamos todas os nossos recalques e neuroses, misturando lágrimas e revoltas pelo desamparo de vivermos sem um governo decente.
Nossos políticos adoram criar leis protetoras ou pseudo-protetoras do povo, tais como tabelamento de preços, estatuto disso, estatuto daquilo, códigos de defesa desse ou daquele, leis de proteção do operário contra o patrão, do pobre contra o rico, do consumidor contra o comerciante, do negro contra os brancos, mas o povo continua com medo. Os legisladores incansavelmente vão produzindo leis, regulamentos, normas, restrições, órgãos patrulhadores, secretarias fiscalizadoras e o povo continua angustiado; sente-se vítima de tudo e de todos.
Ao longo de nossa história o Estado só foi crescendo, até se tornar um monstro imenso e disforme. Seu peso e tamanho passou a oprimir todo mundo. Na tentativa de proteger e zelar por todos, o governo amordaçou, enjaulou o povo, impedindo-o de amadurecer, de criar bom senso e de se tornar adulto.
São milhares de autarquias e órgãos burocráticos que a sociedade ingênua aceita para cuidar de tudo, para se responsabilizar por tudo, órgãos entulhados de funcionários públicos, encastelados na estabilidade perpétua, com mordomias, protegidos por apadrinhamentos e cercados de privilégios. Por fim essas instituições passam a ter vida própria, leviatãs indomáveis; isolam-se dos que deviam beneficiar e sugam montanhas de dinheiro.
Mesmo assim é difícil convencer o povo de que esse gigantismo impede o progresso, cria grandes setores fechados e privilegiados, corporativamente avessos a qualquer tipo de mudança que ameace a perpetuação de seus “direitos adquiridos”
Dessa forma o trabalho orgânico fica desestimulado; o empreendimento empresarial fica refém da imensa burocracia, fica atado aos excessos de regulamentações e controles que apenas geram propinas. A energia do progresso dissipa-se e uma boa parte da população começa a sonhar com a ajudinha do governo, com a renda sem esforço. A sociedade termina metendo-se num beco sem saída, perpetuando a miséria dos que não conseguiram uma teta governamental para mamar.

Nenhum comentário: