quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A HISTÓRIA DO PÃO

Abel Aquino

Naquele dia o professor entrou na sala de aula com um pão de forma na mão - daqueles que vem com uma bonita embalagem e já fatiado - e o colocou sobre sua mesa. Os alunos olharam para o pão e todos ficaram com expressão de espanto e curiosidade no rosto.
O professor, calmamente, tirou seu casaco, colocou-o sobre o encosto da cadeira e olhou para os estudantes.
- Porque estão com essa cara de espanto?
- Para quê esse pão aí? Ouvia uma meia dúzia de vozes, perguntando simultaneamente.
- Bem, é que eu quero descobrir com vocês a história desse pão que comprei no supermercado.
- A história? - Repetiram incrédulos.
- Sim...
- Mas pão tem história? - Insistiram.
- Claro! Como é que ele veio até aqui, como ele nasceu, como foi feito e de que foi feito.... isso não é uma história? - Concluiu o professor olhando para seus alunos.
- Ricardinho, venha até aqui e conte a história desse pão para nós.
- Eu, professor!? - Perguntou Ricardo assustado.
- Sim, você mesmo....
- Mas eu não sei nada dessa história de pão, não.
- Como não sabe. O pão é feito de quê?
- De farinha de trigo, respondeu Ricardo e mais uns dois outros alunos.
- Pois bem, e o trigo é feito de quê?
- O trigo? - Gaguejou Ricardo.
- Nasce da terra, - gritou Fernando, lá do fundo da sala de aula.
- È! - em parte é verdade que veio da terra. Mas na realidade o trigo veio de outro trigo, que é a semente - continuou o professor.
- A história é que o agricultor comprou a semente, arou a terra, esperou a chuva cair, semeou o grão de trigo, esperou germinar, crescer, a chuva cair de novo e na hora certa, amadurecer e então colheu e o vendeu ao cerealista. O cerealista vendeu-o ao moinho. O moinho descascou e moeu o trigo e o vendeu ao padeiro. O padeiro pegou a farinha de trigo, colocou o fermento, a gordura, acrescentou água e amassou a farinha, colocou-a na forma e levo-a ao forno. Do forno, o pão foi retirado, embalado e distribuídos para as padarias e supermercados. Da prateleira, eu o peguei, passei no caixa, paguei três reais, que era seu preço, e vim para a escola.
- Essa é a história do pão, conclui o professor.
-
Os alunos permaneciam olhando para o professor sem entender muito bem aonde ele queria chegar.
- Fernando, o que motivou o lavrador a plantar trigo para colher e vender ao cerealista e esse, por sua vez vendesse ao dono do moinho e que esse tivesse trigo para descascar e moer e fornecer ao padeiro para que o padeiro pudesse fazer o pão e eu fosse encontrar-lo embaladinho na gôndola da padaria e com isso conseguisse tomar o meu café da manhã?
- O que motivou? – Fernando não entendeu.
- Sim, o que o motivou! Foi uma lei do governo que o obrigou a plantar trigo? Foi a religião? Foi por bondade para que eu tivesse o meu pão todo dia?
- Bem, sei lá..... queria ganhar dinheiro, eu acho.
- Exatamente. Ele pensou no dinheiro. O que o moveu foi uma espécie de egoismo, não é verdade?
- Sim, responderam a maioria dos alunos.
- Pois bem, como é possível uma cidade como São Paulo, que tem mais de 10 milhões de pessoas, ter supermercados, padarias e outros tipos de comércios, oferecendo todo tipo de alimento imaginável a essas mais de 10 milhões de pessoas todos os dias do ano...? - como isso é possível? Os alunos permaneceram em silêncio total, esperando a resposta do próprio professor.
- Isso só é possível porque existe o mercado, isso é a liberdade das pessoas de produzirem, comprarem e venderem todo tipo de mercadorias umas para as outras. Não existe nenhum decreto do governo obrigando os produtores, os agricultores e os fabricantes a abastecerem São Paulo para que as pessoas possam obter o que precisam. - Como isso é possível?
- Professor? - eu entendi - Márcia levantou e explicou:
- Professor, eu já li sobre isso; se há liberdade, onde existe uma necessidade há uma oportunidade. As pessoas precisam de coisas, comida, utensílios, móveis, uns precisam produzir móveis e obter dinheiro para comprar comida enquanto outros produzem comida e ter dinheiro para comprar móveis... não é mais ou menos assim?... concluiu Márcia.
- Meus parabéns, Márcia! Você entendeu perfeitamente. Portanto, como podem ver, muitas pessoas participaram da fabricação desse pão. Aliás, essa é uma cadeia sem fim; se imaginarmos que tudo começou com o lavrador plantando o trigo, podemos perguntar: e a semente? A semente foi comprado do fornecedor de sementes, que por sua vez teve que preparar a terra, plantar o trigo, colher beneficiar e recolher a semente para poder vender ao distribuidor de sementes e dessa forma a semente chegou ao lavrador de nossa história. Mas quem forneceu a semente ao lavrador que plantou sua lavoura de trigo para colher semente para vender? Na verdade a história nunca acaba. Podemos retroceder no tempo até aos primórdios da descoberta dessa gramínia lá no campo. Sim, o trigo é uma espécie de grama, por incrível que pareça.
- Mas a pergunta que quero fazer é: como é possível haver sempre pão na padaria e no supermercado e no entanto não existe nenhum decreto governamental obrigando as pessoas a fabricarem o pão? .......são tantas as pessoas envolvidas e no entanto elas nem se conhecem, elas não se reúnem para combinar como manter a padaria e o supermercado constantemente abastecidos de farinha de trigo, a matéria prima do pão. Se começarmos pelo produtor de semente, chegamos ao distribuidor, ao lavrador, ao dono do moinho que compra o trigo e o transforma em farinha, ao comprador da farinha que a distribui às padarias e aos fabricantes de pão de forma, chegamos a conclusão que essa é uma cadeia extremamente complexa e no entanto funciona quase sem falhas, - a não ser por eventuais problemas climáticos ou interferências governamentais quase sempre danosas -, repito, funciona quase sem falhas e incrivelmente sem comando de governo algum. E quantos empregos essa maravilhosa cadeia de eventos propicia? O benefício não é só meu ou seu na medida em que podermos comer nosso pão com manteiga toda manhã. O benefício se espalha ao longo das várias fases da produção e comercialização, gerando trabalho para muitos operários, criando comércios de tratores, de máquinas agrícolas, atividades para os moinhos industriais, veículos de transportes, galpões de armazenamentos, etc, etc.
- Agora, voltando ao início, pergunto: como chamamos a essa cadeia de produção e comércio que leva a ter pãozinho todo dia na padaria?
- Mercado, respondeu Pedro rapidamente.
- Perfeitamente, Pedro.
- Mas o que é que está a cargo do Governo e não do mercado? - Alguém pode responder?
- A segurança! Gritou Aldo, levantando os braços.
- É uma delas.... quais outras?
- A saúde, arriscou Márcia.
- Perfeitamente. O governo, incluindo o municipal, o estadual e o federal, é responsável pela segurança, pelo atendimento de saúde aos mais pobres, por fornecer educação gratuita, pelo asfalto da rua, pela luz pública. E ele é eficiente nisso?
- Não, quase todos responderam.
- Pois bem, essa é a grande diferença entre as atividades feitas pelas pessoas particulares com o intuito de obter renda e as atividades obrigatórias do Estado que não possui motivação clara ou bem definida.
- Mas agora pergunto: por quê esse tal de Mercado é tão xingado e endemoniado por determinadas ideologias? - Alguém pode responder?
Todos permaneceram calados, pensativos.
- Bem, concluiu o professor, esse assunto é uma outra longa história que iremos tratar na próxima aula. A aula está encerrada; tenham todos uma boa noite!.

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