Abel Aquino
Os políticos que defendem o voto obrigatório tem uma visão de que o povo não gostam de votar, não dá valor ao voto.
E eles estão absolutamente certos!
Claro que o povo tem conciência de que o voto não muda nada, não representa nada para ele como participação política. Portanto, se pudesse, não perderia tempo em votar, iria fazer outra coisa mais proveitosa.
O meu voto – e o seu também - representa um fração tão ínfima de decisão que posso considerar que não tem nenhuma importância prática, ou seja meu voto não influi nada na escolha de nossos dirigentes. Essa diluição do poder do voto faz com que sejam niveladas todas as decisões, tanto daquele que analisa as qualidades de seu candidato e tenta votar no melhor para o povo quanto daquele que voto por mera obrigação. Essa é a realidade: voto consciente ou voto indiferente dá no mesmo.
Se quizéssemos mudar alguma coisa para melhor, em nossa sociedade, tereíamos, primeiramente, de mudar todos os políticos.
Qualquer cidadão sério sabe que o voto em nossa torta democracia é uma loteria, porque votamos em fulano ou beltrano, numa decisão baseada em detalhes ocasionais, táis como o sorriso do fulano, o jeito de pentear o cabelo, a convicção com que afirma suas promessas, e não nos chega quase nada de real e concreto do tal fulano.
Escolhemos nosso candidato, votamos e afastamos da urna angustiados, torcendo para que depois não fiquemos arrependidos da escolha que fizemos.
A Justiça Eleitoral acaba piorando as coisas ainda mais, na medida em que, preocupada em dar condições de igualdade de propaganda para cada político, proibe, por exemplo, que algum veículo de comunicação divulgue, em periodo eleitoral fatos escusos do político.
O candidato, durante o período eleitoral, tem o monopólio da informação sobre si mesmo.
Não é uma aberração isso?
Logo quando o eleitor mais precisa de informação sobre o caráter daquele em quem vai votar é que não pode buscá-la.
O eleitor não vai conseguir ter dados sobre o lado oculto da biografia do candidato. É tudo o que o picareta precisa para vender uma imagem maquiada ao eleitor e com isso se eleger.
Nosso modelo político é feito sobre medida para a proliferação de inescrupulosos e de indivíduos com passado, no mínimo, suspeito.
Agora, do ponto de vista do político o voto obrigatório tem outra “nobre” função.
Dá carta branca, legitima sua atuação como “representante do povo”. Ser eleito é alcançar o “poder”, o que é a mesma coisa que se afastar do povo, elevar-se a um estágio superior. Lá de cima, ele se convence de que sabe o que é melhor para o povo.
Depois de eleito, acha o povão desagradável.
Em função da próxima eleição, não considera as pessoas como cidadãs mas sim como clientela eleitoral apenas. Para isso atua no imediatismo, na defesa de benefícios diretos e fáceis para determinados segmentos que podem influir na sua reeleição, mesmo que, com isso, comprometa o futura da sociedade.
Como a vontade do povo é uma vontade abstrata, imprecisa, prefere ele acreditar que é a própria vontade do povo. A vontade do povo sou eu, seu subconsciente afirma, portanto tudo que eu fizer é a vontade do povo.
Nossos partidos, sem exceção, são formados por bandos, sem nenhum principio ético , na verdade sem princípio algum a não ser o de chegar de qualquer forma ao “poder”.
E quando chegam ao “poder” ocupam toda a máquina estatal como se fosse sua Casa Grande, dá emprego para toda a família e arruma centenas, às vezes milhares de cabides, chamados de “cargos de confiança”, para seus partidários e apaniguados, todos imbuídos da mais santa vontade de usufruir pelo maior tempo possível das benesses governamentais.
E, para nosso desespero, os partidos da “oposição” sonham com a mesma oportunidade.
Para que o voto deixasse de ser obrigatório os políticos teriam de mudar de comportamento.
E isso eles não querem.
Teriam que criar mecanismo que garantisse mais poder ao eleitor.
Enquanto o eleitor for votar apenas para cumprir uma obrigação legal, votará sempre desanimado e desmotivado.
E isso é bom para os políticos.
Nada melhor para o político que eleitores desencantados. Esses eleitores elegem o político e o deixam em paz. Não vão perturbá-lo dizendo o que ele tem de fazer ou deixar de fazer.
QUE DEMOCRACIA É ESSA?
Você já percebeu que somos obrigados a votar para que nosso país seja considerado uma “Democracia”, não é verdade?.
Mas já pensou o quanto é absurda essa afirmação?
No entanto é exatamente o tipo de “Democracia” que temos.
Acredita nisso? Somos uma “Democracia” obrigatória.
E para piorar mais ainda as coisas ouvimos “slogans” tais como votar é um “dever cívico”, é “ato patriótico” e aí por diante.
Na verdade, e para resumir, podemos considerar que a chamada “democracia brasileira” não passa de alternância pacífica de poder. Deixando cuidadosamente o povo de fora do exercício cotidiano de qualquer ato político, sobra para a sociedade somente o dever de legitimar essa alternância de poder, e isso ela faz pelo voto.
Portanto o mérito da democracia brasileira foi o de garantir a transição pacífica de poder entre grupos, sem grandes traumas, sem golpes fardados e coisas assemelhadas, bastante comum em outras épocas.
Um comentário:
descobri este site ao investigar argumentos contra o voto obrigatório para um debate da disciplina e foi bastante facultativo, até porque não deixo de adquirir alguma cultura geral acerca de política. Bastante bom!
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