Seria ato de prudência se tivéssemos por princípio
que todos os seres humanos são imperfeitos, claro que uns mais outros menos; consequentemente,
todas as suas obras, sejam elas escritas ou materiais, seriam passiveis de
equívocos, preconceitos e parcialidades. Levando em conta esse pressuposto,
haveria alguém sábio ou quase perfeito o suficiente para que pudéssemos segui-lo
cegamente?
Os filósofos do passado ou do presente, os
pensadores, os sociólogos e psicólogos, qualquer cientista envolvido em
humanidades teriam que ser olhados com certa ressalva, talvez comparando eles,
em certos aspectos ao homem comum, ao operário da fábrica ou o vendedor de
frutas do bairro. É claro que o que diferencia uns dos outros é notória,
sendo os primeiros muito mais conhecedores dos segredos da vida e da natureza
do que o cidadão comum, mas, mesmo assim, essa enorme diferença de conhecimento
não seria suficiente para capacitá-los a
nos impor regras de conduta, crenças generalizantes ou leis abrangentes. Todo e
qualquer ser humano está sujeito a erros e os que detém poder e autoridade,
seja ela moral, filosófica, acadêmica ou política estão mais sujeitos ainda a
graves e fatais equívocos que os comuns dos mortais. Portanto um dos maiores
perigos à vida humana é a presunção de infalibilidade que certos lideres
religiosos, sociais e políticos cultivam. Qualquer um percebe, se pesquisar a
história com profundidade, que as maiores desgraças humanas já
perpetradas não foram consumadas pela intenção de fazer o mal ou causar
sofrimento e, sim, sob o impulso de crenças de que a humanidade precisava ser
submetida, a ferro e fogo, à alguma idéia miraculosa de depuração e redenção.
Resumo: um dos maiores problemas da humanidade é a falta
de consciência da falibilidade; é esquecer de que todos nós somos limitados,
incapazes de abraçar a amplidão da imensa complexidade da vida e da natureza e
que nossos conhecimentos não passam de alguns grãos de areia dos incontáveis
fenômenos da vida e do planeta.
As pessoas que elegem a sim mesmas, ou são ungidas
por outras, para guiar a humanidade pelo caminho que lhes parece melhor,
certamente acabarão causado muito mais males ao ser humano que aquelas que se
sentem incapazes de tais feitos.
Ao ler os livros dos muitos e pretensos sábios, filósofos
e teóricos políticos, percebemos que é um hábito extremamente raro o cultivo da
humildade e a consciência dos limites estreitos dos conhecimentos que guardam
em suas caixas cranianas. Pouquíssimos pensadores tiveram aquele momento “eureca”
de perceber o quão pretensioso seria agarrar-se a certas convicções e as impor aos
outros.
Por isso, faríamos um enorme bem se adotássemos o
lema, parafraseando Sócrates: sábio é aquele que sabe o quão pouco sabe e o
quão muito ainda precisa saber para entender a natureza humana.
Conhecer os próprios
limites será a última forma de os lideres da humanidade parar de distribuir o
inferno enquanto tentam construir o paraíso.
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