sexta-feira, 11 de setembro de 2015

OPRESSÃO E FALTA DE HUMILDADE INTELECTUAL

Seria ato de prudência se tivéssemos por princípio que todos os seres humanos são imperfeitos, claro que uns mais outros menos; consequentemente, todas as suas obras, sejam elas escritas ou materiais, seriam passiveis de equívocos, preconceitos e parcialidades. Levando em conta esse pressuposto, haveria alguém sábio ou quase perfeito o suficiente para que pudéssemos segui-lo cegamente?
Os filósofos do passado ou do presente, os pensadores, os sociólogos e psicólogos, qualquer cientista envolvido em humanidades teriam que ser olhados com certa ressalva, talvez comparando eles, em certos aspectos ao homem comum, ao operário da fábrica ou o vendedor de frutas do bairro. É claro que o que diferencia uns dos outros é notória, sendo os primeiros muito mais conhecedores dos segredos da vida e da natureza do que o cidadão comum, mas, mesmo assim, essa enorme diferença de conhecimento não seria suficiente para  capacitá-los a nos impor regras de conduta, crenças generalizantes ou leis abrangentes. Todo e qualquer ser humano está sujeito a erros e os que detém poder e autoridade, seja ela moral, filosófica, acadêmica ou política estão mais sujeitos ainda a graves e fatais equívocos que os comuns dos mortais. Portanto um dos maiores perigos à vida humana é a presunção de infalibilidade que certos lideres religiosos, sociais e políticos cultivam. Qualquer um percebe, se pesquisar a história com profundidade, que as maiores desgraças humanas já perpetradas não foram consumadas pela intenção de fazer o mal ou causar sofrimento e, sim, sob o impulso de crenças de que a humanidade precisava ser submetida, a ferro e fogo, à alguma idéia miraculosa de depuração e redenção.
Resumo: um dos maiores problemas da humanidade é a falta de consciência da falibilidade; é esquecer de que todos nós somos limitados, incapazes de abraçar a amplidão da imensa complexidade da vida e da natureza e que nossos conhecimentos não passam de alguns grãos de areia dos incontáveis fenômenos da vida e do planeta.
As pessoas que elegem a sim mesmas, ou são ungidas por outras, para guiar a humanidade pelo caminho que lhes parece melhor, certamente acabarão causado muito mais males ao ser humano que aquelas que se sentem incapazes de tais feitos.
Ao ler os livros dos muitos e pretensos sábios, filósofos e teóricos políticos, percebemos que é um hábito extremamente raro o cultivo da humildade e a consciência dos limites estreitos dos conhecimentos que guardam em suas caixas cranianas. Pouquíssimos pensadores tiveram aquele momento “eureca” de perceber o quão pretensioso seria agarrar-se a certas convicções e as impor aos outros.
Por isso, faríamos um enorme bem se adotássemos o lema, parafraseando Sócrates: sábio é aquele que sabe o quão pouco sabe e o quão muito ainda precisa saber para entender a natureza humana.
Conhecer os próprios limites será a última forma de os lideres da humanidade parar de distribuir o inferno enquanto tentam construir o paraíso. 

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